sábado, 15 de agosto de 2009

Entrevista com o cabeça de lista da CDU à Câmara Municipal do Sabugal (no Blog Capeia Arraiana)



– Quais são as suas origens no concelho?
– Sou natural do Sabugal, assim como o meu pai, Carlos Monteiro. Já a minha mãe, Maria Alice, é natural das Quintas de São Bartolomeu. Vivi e cresci no Sabugal, de onde saí com 17 anos, vindo para Lisboa para fazer o ano propedêutico, que era um ano de estudos de preparação para a Universidade. Tirando eu, toda a minha família vive no Sabugal e eu vou mantendo uma ligação à minha terra, indo lá quando posso, pelo menos duas vezes por ano. E acompanho também com muito interesse a vida do Sabugal.
– Como surgiu a oportunidade de se candidatar à Câmara Municipal do Sabugal pela CDU?
– Recebi um convite do PCP do Sabugal e, após ponderar, achei que deveria aceitar esse desafio, no sentido de dar um contributo para a discussão daquilo que queremos que o concelho seja.
– Quais as expectativas que tem face a esse desafio?
– Em primeiro lugar queremos apresentar uma equipa que esteja disponível e possa dar um contributo para o debate. Depois queremos apresentar propostas nas quais, independentemente das questões político-ideológicas, os sabugalenses se revejam. Quanto a resultados eleitorais, a nossa maior expectativa é aumentar o número dos representantes da CDU na Assembleia Municipal, o que claramente se justifica na medida em que os mesmos têm tido aí um papel preponderante. E, já agora, seria simpático que a CDU elegesse um representante no executivo.
– Portanto acredita que poderá ser eleito vereador?
– Porque não? Isso dependerá da vontade dos sabugalenses em fazerem rupturas.
– Como conta fazer a campanha para passar a sua mensagem ao eleitorado?
– Estamos neste momento a programar a nossa campanha e temos princípios de base e propostas concretas que apresentaremos a seu tempo na forma de programa. Quanto à forma de passarmos a nossa mensagem, eu acredito sobretudo no contacto directo com as pessoas e é nisso que vamos apostar.
– As outras candidaturas falam muito na necessidade de se lutar contra a desertificação. Como é que a candidatura da CDU encara este problema e como pensa fazer-lhe face?
– Posso adiantar que defendemos quatro eixos de desenvolvimento: económico, social, cultural e ecológico. Depois queremos, no fundamental, atingir seis objectivos. Em primeiro lugar, enquanto grande objectivo, colocamos a necessidade do Sabugal recuperar a sua posição estratégica, tanto no plano regional como nacional, sendo aqui muito importante ter em conta que o concelho do Sabugal é periférico relativamente ao espaço nacional, mas não o é no contexto ibérico, dada a nossa posição junto à fronteira. Um segundo objectivo é a criação de emprego, nomeadamente na área dos serviços, no apoio à população sénior, bem como na agricultura e na indústria. A estratégia do poder local passa não apenas pelo desenvolvimento das competências próprias das autarquias, mas também por haver um trabalho de influência institucional, exigindo e reivindicando junto do poder central.
– Mas como se cria emprego no Sabugal?
– Esta questão da criação de emprego é fundamental para a fixação das populações e a luta contra a desertificação. Há um conjunto de instrumentos, como o uso das taxas municipais, reduzindo e ou isentando, o mesmo se passando em relação a alguns impostos, como IMI e a derrama sobre o IRC. Mas temos também um terceiro objectivo, que é revitalizar alguns núcleos habitacionais históricos, nomeadamente o do Sabugal. Há ali um conjunto de casas que estão degradadas e que importa recuperar porque elas representam, de certa forma, a nossa identidade. Chegou a altura da Câmara agir. Se os particulares não têm capacidade e condições para recuperarem as casas isso deve caber à Câmara, que as deverá recuperar e depois colocar no mercado de arrendamento ou até colocá-las à venda. Não se pode continuar a pactuar com a degradação dos núcleos históricos.
– Isso quanto ao Sabugal. E quanto às aldeias?
– Algumas aldeias também têm núcleos históricos que podem beneficiar dessas medidas. É possível revitalizar algumas aldeias apostando na captação de turistas. Falo aqui, por exemplo, no turista de fim-de-semana. Para isso também é necessário valorizar o património natural, dando a devida atenção à Serra da Malcata, ao Rio Côa e a outros recursos naturais que possuímos. Depois não esqueçamos que o concelho tem cinco castelos e isso deve dar azo à criação de uma rota dos castelos, ligando-os e associando a esta rota a gastronomia. Aliás o nosso quarto grande objectivo é a valorização e difusão da cultura raiana, tendo em conta, por exemplo, alguns valores gastronómicos, como os enchidos, a truta, o cabrito e o queijo, sendo aqui importante a certificação dos produtos, na qual a Câmara pode ter um papel directo de apoio a quem se dedica a estas actividades. A isto deve-se associar a restauração e a hospedagem, entrando aqui as aldeias porque muitas delas têm condições para apostarem no turismo de habitação. Um quinto grande objectivo é a implementação de uma política de gestão pública e participada.
– Mas a gestão pública dos serviços já existe…
– Sim, mas veremos o que sucederá quando a água for privatizada.
– É contra a privatização da água?
– A água é um bem público. Há princípios dos quais eu não abdico e um deles é o de que os bens públicos como a água têm de ser geridos de uma forma pública. O privado interessa-se pelos negócios rentáveis, mas não é aceitável que se faça negócio com bens públicos.
– Falava-nos no objectivo da gestão pública e participada…
– Tem de haver uma gestão pública, mas também uma gestão participada, no sentido de que a população deve ser chamada a participar na gestão autárquica, em vez de apenas ser chamada a pronunciar-se cada quatro anos, em eleições.
– E como se faz essa gestão participada?
– Chamando as pessoas a intervir. Se a população não vem ter com o poder político, é este que deve ir ao encontro das populações. De resto há exemplos em Portugal e no mundo de práticas de gestão pública em que é a administração pública que vai a ter com os cidadãos. Mas quero dizer ainda que temos um sexto objectivo, que é a optimização dos recursos financeiros da autarquia e a valorização dos trabalhadores autárquicos.
– Como se pode fazer diferente e melhor no Sabugal?
– Em primeiro lugar, e como já disse, chamando as populações a participar. Depois é necessário assumir que a Câmara não tem que substituir a administração central. Por isso a execução da ligação à A23 a expensas da Câmara é um erro. Tem de se bater à porta do poder central as vezes necessárias, pressionando as Estradas de Portugal e o Ministério dos Transportes e Obras Públicas, no sentido de se garantir que o Estado cumpra o seu dever, dentro das suas competências. Neste caso concreto, quanto muito deveria haver um protocolo em que a Câmara garantisse que as Estradas de Portugal pagariam as obras ainda que a Câmara avançasse com a sua execução por considerar isso urgente.
– Há quem defenda que, neste momento, o mais prioritário seria a melhoria da ligação à Guarda, enquanto sede do distrito, também pensa assim?
– Neste momento isso é essencial, porque essa estrada liga-nos a duas auto-estradas, a A23 e a A25, sendo até necessário redefinir o traçado. Claro que a ligação à A23 também é importante, mas é necessário definir qual é a primeira prioridade em termos de obra a executar. O aliciante de um programa autárquico é a ideia de que nem tudo vai ser possível realizar em quatro anos, até por insuficiência de meios. O que distingue as candidaturas é a prioridade que colocam na satisfação das necessidades e como isso se concretiza. Sendo os recursos limitados, a acção politica baseia-se na capacidade de decidir.
– Que acção cultural defende para o concelho?
– Há várias iniciativas a realizar, mas há uma que considero fundamental, que é a recolha da gíria quadrazenha. Isso pode ser feito através da comunidade escolar, mas é fundamental recolher aquele património etnográfico, assim como o do contrabando, enquanto forma de vida que deu de comer a muita gente durante décadas.
– Quanto ao Centro de Negócios Transfronteiriço do Soito, recentemente inaugurado, o que considera que deve ser feito para o dinamizar?
– São óptimas instalações, que podem ser sobretudo usadas para instalar um pólo de apoio à constituição de empresas, sobretudo as micro e pequenas empresas, que poderão encontrar ali um centro de partilha de recursos. Também pode ser um pólo cultural, que acolha iniciativas dessa natureza.
– E quanto à Praia Fluvial do Sabugal?
– Eu não gosto de lhe chamar praia fluvial. Para mim é o rio. Era ali que, quando era miúdo, ia com os meus amigos. Chamávamos-lhe o Muro, e usufruíamos daquele recurso durante todo o Verão. Considero que o rio deve ser melhor utilizado nos dias de hoje, desde os Fóios a Badamalos. O essencial é ter um rio limpo, com alguns apoios básicos, mas sem lhe retirar o seu aspecto natural. É necessário valorizar e dignificar aquele espaço. Ainda dentro disso temos a proposta de criar um passeio público, ou um percurso pedonal com ciclovia, entre o Sol Rio e a Barragem do Sabugal. Teria de ser o mais natural possível. As caminhadas estão na moda e podemos criar ali um percurso com condições de ser usado por toda a população nos momentos de lazer.
– Que outras propostas concretas vai apresentar?
– Muitas, que farão parte do nosso programa eleitoral. Por exemplo, defendo a criação de um cartão sénior para se garantirem descontos no comércio local aos mais idosos, assim se apoiando também as lojas comerciais. O Instituto Politécnico da Guarda também pode criar um pólo no Sabugal, com cursos ligados à gestão agrícola, por exemplo. Também defendemos que a Câmara crie bolsas de estudo para jovens carenciados. Quanto aos serviços do Município, deve ser criado um gabinete de atendimento ao público, que trate de todos os assuntos, com possibilidade de se descentralizar pelas aldeias. Pode ser um serviço móvel, que além do mais leve a biblioteca municipal às freguesias.

Sem comentários:

Enviar um comentário